quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Sobre a necessidade dos álbuns de música

Antes de eu começar a discorrer sobre o assunto de hoje, um pequeno adendo:

Eu não sou fanático por música. Não acompanho o mercado, lançamentos, MTV nem nada do gênero. Não sou estudioso de música. Não toco nenhum instrumento. Não tenho o menor ouvido pra ritmo nem porra nenhuma. Sabe o cara que bate palmas fora do tempo no “Parabéns à você”? Sou eu. Por isso, se alguém com mais propriedade já discorreu sobre o que eu quero falar agora, legal, mas isso não invalida minhas idéias. Não completamente, pelo menos.

Também não danço muito bem, devo acrescentar.


E eu também não tive saco de procurar no Google por algum artigo parecido para não me fazer desistir de escrever. Já tenho problemas o bastante para começar.

Agora vamos ao que interessa: álbuns de música. Não vou especificar como “CD”, pois podia parecer que eu esava falando da mídia física - estou falando do álbum. O conjunto de músicas com uma arte de capa. Tipo “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band” dos Beatles, “A Night at the Opera” do Queen ou “Mamonas Assassinas” dos Mamonas Assassinas. Acho que deu pra entender.

E acredito que eles podem deixar de existir.

Pelo menos no modo como eles existem atualmente.

Vocês conhecem alguém que ainda ouve CDs? Ou discos de vinil? Provavelmente sim, alguém com mais de 40 anos ou um hipster tonto. Mas acredito que a maioria ouve música no formato digital. Mp3. Baixados através de métodos dentro da lei, respeitando o copyright dos autores e empresas envolvidas e etc. Enfim, pelo menos na realidade que eu me encontro, é assim que a maioria das pessoas que eu conheço consome música: arquivos digitais.

Agora, outra pergunta: daqueles que consomem música no formato digital, quantos de vocês ouvem efetivamente um álbum inteiro na ordem das músicas?

Eu, pelo menos, nunca.

Não sei quanto a vocês, mas, para mim, algo que fez o iPod dar certo foi o glorioso botão de shuffle que funciona (tive uns cinco mp3 players vagabundos made in chinaraguay que o shuffle era uma bosta). Eu gosto de aletoriedade quando ouço música. Quero que depois de uma música do AC/DC venha uma do Radiohead seguida do encerramento de Suzumiya Haruhi no Yuutsu. Ou sei lá. Só sei que, toda vez que eu quero ouvir música, quero que a experiência seja diferente, que o shuffle encontre alguma música que não ouço faz tempo ou me surpreenda com uma seqüência que nunca ouviria no rádio.

Ou seja, foda-se o álbum.

Ele só serve pra organizar as músicas e ter uma capinha bonitinha no display do meu iPhone.

Ok, agora que eu demonstrei a falta de utilidade do álbum na minha realidade enquanto consumidor de música, fica a questão: então como que os artistas deveriam lançar seu trabalho?

Tirar sarro da Rebecca Black é uma coisa muito 2011, mas achei apropriado.


Simples, uma música de cada vez.

Vai lançando no decorrer do ano, de acordo com o sucesso que a sua música anterior for fazendo. Associe suas músicas com acontecimentos, tipo dia das mães ou a final do campeonato canadense de curling. Dê uma chance para todas as suas músicas, não apenas para aquelas três que vão virar clipe/single. E faça todas as suas músicas valerem a pena, não fique gravando qualquer coisa só para completar as doze músicas que a gravadora quer que o álbum tenha.

Isso tem muito a ver com uma coisa que eu senti muito durante minha adolescência, quando eu assistia MTV e a MTV ainda passava clipes: só algumas músicas chegavam aos ouvidos do mundo.

Eu achava que todas as músicas mereciam uma chance, sabe? Uma coisa bem idealista e tonta, mas ainda assim fazia sentido. Até porque, em alguns álbuns que eu tinha, a minha música favorita não virou clipe nem single nem porra nenhuma, e eu só ouvia no CD. E eu queria que mais gente conhecesse a música, queria saber o que o músico ia fazer no clipe dessa música, queria falar da música X com meus amigos não-imaginários e eles soubessem do que eu estava falando.

Até hoje penso um pouco assim. Toda música merece ser ouvida (nossa, tô meloso de vomitar, hoje).

Por causa disso que eu acho que esse método de lançar uma música por vez dá uma chance para todas elas. E as internets permitem esse método de lançamento.

Eu meio que só consigo ver dois poréns nesse esquema: um, o marketing, e dois, o excesso de lançamentos.

No caso do marketing, estou falando de como vender cada música. Imagino que seja um certo stress fazer uma propaganda para o horário nobre para cada santa música da Lady Gaga. Ou um outdoor. Ou sei lá. O custo pode ficar meio alto pra caralho.

Mas, ao mesmo tempo, imagino que nessa realidade utópica a maior parte das propagandas se concentre nas internets e nas rádios. Página principal do iTunes, banners no UOL, pronto. E, no caso das rádios, basta TOCAR A PORRA DA MÚSICA.

E no caso do excesso de lançamentos, estou falando de termos um zilhão de músicas diferentes lançando no mesmo dia. Ia ser difícil conseguir acompanhar tudo, o lançamento de tudo, o que pode fazer o contrário daquilo que eu imaginei, onde ninguém consegue ouvir direito porra nenhuma.

Mas acho que não seria o caso. A internet é bem boa em fazer o conteúdo certo chegar nas pessoas certas (desconsiderando os spams de viagra). Ou melhor, as pessoas aprenderam a usar a internet de modo a filtrar aquilo que elas querem. Então, se eu gosto de rap eletrônico de raiz da costa nordeste de Madagascar, eu vou onde tocam rap eletrônico de raiz da costa nordeste de Madagascar. Não vou ficar perdendo tempo na rádio Disney ou coisa parecida.

Resumindo, hora de matarmos os álbuns como eles são hoje em dia.

E recriarmos eles como algo que faça sentido.

O que seria isso? Bem, tenho três sugestões.

A primeira é manter os álbuns de trilha sonora, pois aí temos um motivo válido para a existência deles. É um conjunto de músicas ligada a outra obra artística (como um filme ou um game), um pacotinho que remete a essa outra experiência.

A segunda é um esquema de compilação “compre 2 leve 3”. Imaginemos que uma banda qualquer resolve seguir esse esquema de lançar uma música por mês. Depois de um ano, ela tem doze músicas (matemática, pessoas). A oportunidade perfeita para, por exemplo, lançar um compilado dessas músicas como um álbum E COLOCAR O FILHO DA PUTA NUM PREÇO MAIS BAIXO QUE SE EU FOSSE COMPRAR CADA MÚSICA SEPARADAMENTE. Muito importante essa parte do preço, senão não faz sentido.

E a terceira é a mais esperta e genial de todas, que eu resolvi nomear como “o método Calypso”.

Não, sério.

Essa banda brasileira teve uma das idéias mais brilhantes que eu já vi na história da indústria da música. Quero dizer, talvez a idéia não tenha sido deles, mas eles executaram direito. O princípio é simples: grave um álbum ao vivo em todo santo show que você fizer. TODOS. Queime uma cacetada de CDs e ponha pra vender na saída do show. Resultado: LUCRO.

Porque aí você está vendendo mais que um álbum, você está vendendo um tipo de lembrança única de uma experiência igualmente única. Para as pessoas que estavam lá. Que já gostam da sua música. Que vão se sentir especiais ao ouvir o CD e o vocal gritar “É isso aí, Piraporinha!”, ou aquele grito desesperado que você soltou no terceiro refrão da quinta música. Me parece o tipo de coisa que as pessoas gostam de comprar.

Enfim, acho que isso é tudo que tenho sobre o assunto no momento.

Mas, como um último argumento, caso alguém ainda ache que o álbum é algo fundamental para a criação artística do músico:

Beethoven não esperou compôr nove sinfonias pra organizar um tour. Lançou uma de cada vez.

2 comentários:

  1. Legal, boa ideia.
    Eu continuo a ouvir CDs e de vez em nunca compro um (quase sempre um greatest hits de uma banda que queria conhecer mais ou um de filme)
    Ouço praticamente só no carro, pq não tenho um som com entrada auxiliar, e a maioria são CDs que eu queimei, em casa jogo o CD no PC e shuffle.
    Qto à publicidade da música acho que nem precisa encanar mto, basta organizar por gênero, artista e data de lançamento, o boca a boca ou teclado a teclado já se encarrega de fazer o resto.

    E realmente, o álbum com o compilado do ano tem que ser no máximo 70% do custo de baixar cada música individualmente, pague 7 leve 10.

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  2. Bravo!
    Eu costumo ouvir álbuns de ponta a ponta porque geralmente eles tem uma "temática", quase como se fosse narrativa mesmo. Mas, obviamente não ouço música assim o tempo todo e acho muito legal o esquema de uma música por vez, tanto que muitas vezes desligo a porra do mp3 e ligo a rádio porque tudo que eu tenho já ouvi um zilhão de vezes. Me lembro do Napster, mó nostalgia...cada música era uma conquista, tinham até gosto hahaha

    De qualquer modo, ótimas idéias. Eu gostei de todas

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